quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Barreiro - Eça de Queirós, o Barreiro e o Tejo

Acrílico sobre tela 70 cm x 30 cm

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Eça de Queirós
Eça de Queirós viveu algum tempo da sua vida em Évora. Seus pais viviam em Lisboa e por isso deve ter feito muitas vezes a travessia Lisboa-Barreiro e aqui apanhado o comboio para Évora. Nesta cidade alentejana foi Eça de Queirós director e pensa-se que talvez o único ou principal redactor do jornal “Distrito de Évora” pois muitas vezes escrevia com a capa de pseudónimos talvez para fazer crer que no jornal trabalhava muita gente.
É desse jornal e da pena de Eça a crónica que segue:

"Distrito de Évora" nº. 2, 10 de Janeiro de 1867
A crónica está satisfeita! E não sabem porquê?
Porque o novo ano se mostra mais razoável que o velho 1866!
É feio dizer mal dos que passaram desta a melhor vida, mas, em abono da verdade, o defunto 66 foi um ano disparatado.
Deu-nos o Inverno na Primavera, a Primavera no Verão e, por fim, o Verão no Inverno!
Mas o ano novo apresenta-se com a face carrancuda, de turvo aspecto, obrigando o oceano a visitar as nuvens, e estas por seu turno a desfazerem-se em água sobre a terra!
Ora isto pode não ser bonito, mas é racional, e a crónica é sempre pela razão.
E depois o vir o Inverno a tempos e a horas é decerto um penhor que havemos gozar no Verão belos calmeiros para saborear os sorvetes e carapinhadas da Júlia, do Alberto e Couto Braga, se assim aprouver à má economia financeira.
No dia 5, o vapor que conduzia os passageiros de Lisboa para o caminho de ferro do Sul, abriu água no trajecto e obrigou os que vinham no comboio de Évora, Beja e Setúbal, a ficar a passar a noite no Barreiro.
Por esta vez ainda felizmente este sinistro só acarreta graves inconvenientes, mas pode dar-se qualquer dia outro que produza grande número de vítimas.
Há muito que a imprensa clama contra essas carcaças que a companhia de navegação no Tejo ainda conserva em activo serviço e parece que, enquanto não tiver lugar um acontecimento que vá lançar a consternação e o luto no seio de muitas famílias, não será aquela obrigada a reformar o serviço dos vapores, visto não querer desistir do seu intolerável monopólio.
Pedimos ao governo sérias e prontas providências.

No mesmo jornal, alguns dias depois, aparece publicada a carta seguinte e a resposta do mesmo Eça de Queirós:
"Distrito de Évora", nº 4:
Sr. redactor. – No seu jornal de 10 do corrente, diz v. e a Revolução de Setembro transcreveu: «No dia 5 do corrente o vapor que conduziu os passageiros de Lisboa para o caminho-de-ferro do sul, abriu água no trajecto, e obrigou os que vinham no comboio de Évora, Beja e Setúbal a ficar e passar a noite no Barreiro.»
Posso asseverar a v. Sr. redactor, que tudo acima dito é completamente inexacto; nem o vapor fez água, nem os passageiros vindos no comboio ficaram no Barreiro. O vapor saiu nesse dia, do Barreiro para Lisboa às três horas e três quartos da tarde, e chegou a Lisboa às quatro e meia, e daqui partiu, na forma do costume, para Cacilhas a ir buscar a carreira das cinco horas para Lisboa.
Deve notar, Sr. redactor, que neste dia houve um grande temporal no Tejo, e que o vapor de África acendeu as fornalhas, fez vapor, mas não se atreveu a largar a amarração.
É para sentir que uma informação inexacta e mesmo caluniosa, desse motivo a v. fazer considerações, que nem os precedentes de vinte e oito anos, nem as vistorias passadas pelos peritos do Arsenal, ainda há três meses, autorizam.
Muito seria para desejar que a imprensa do país fosse mais cautelosa, quando se trata do crédito de terceiras pessoas, levada apenas de informações menos escrupulosas, e que muitas vezes encobrem interesses mesquinhos e desarrazoados, que se revelam, como ali, pelas palavras – intolerável monopólio, etc., etc.
Sou, Sr. redactor, com a devida consideração.
De v. etc.
António N. Sabbo Júnior
Director presidente da companhia

Esta carta recebida pede a rectificação de uma notícia, não verdadeira.
De boa vontade. Houve de facto uma má informação, sem culpa, sem mau propósito. Hoje a redacção recebeu outra carta em que o Sr. Sabbo oferece o testemunho de algumas pessoas que nesse dia desembarcaram em Lisboa.
É verdade. Um nosso redactor atravessou no vapor do Barreiro nesse dia, quando no Tejo andava temporal.
Damos toda a razão à direcção do vapor e a quem desejamos prosperidade e desenvolvimento.
No entanto nas linhas escritas não houve malevolência, ou intenção hostil: o risco dum arrombamento dum vapor, o susto que pode causar um tal boato, o que se diz da pouca segurança das máquinas, tudo levou a falar assim, mas sem intenção, e somente como quem vê um perigo, e grita com comoção para que seja evitado.
Não foi hostilidade, foi informação errada. Folgamos em que as vistorias feitas, mostrem o bom estado, a segurança, a esperança de duração, facilidade do bom serviço dos vapores do Tejo.
À redacção são perfeitamente estranhos os interesses da companhia, não os combate, não os aceita, não os sabe mesmo; se os barcos estão podres, lamenta; se os barcos estão sãos, estima; não sabe que intrigas se movem contra essa companhia, ignora absolutamente que influências queiram a sua extinção, não procura hostilizá-la, não pretende protegê-la também; são-lhe enfim, absoluta e perfeitamente indiferentes os interesses especiais da companhia: não os conhece, não os sabe: assim se vê que tudo nasceu duma informação errada.Por o que, em amor da justiça e da verdade, se rectifica a notícia no sentido da carta.

domingo, 13 de setembro de 2009

Barreiro - Largo Casal

Acrílico sobre tela 50 cm x 40 cm

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Largo (Praça) Gago Coutinho e Sacadura Cabral, vulgo “Largo Casal”
O popular “Largo do Casal” foi, antigamente, o “mini-rossio” local.
Se alguém perguntar aos habitantes do Barreiro onde é a Praça Gago Coutinho e Sacadura Cabral, a maior parte deles não responderá com muita certeza… outros desconhecerão mesmo onde fica.
Mas se fôr citado o Largo do Casal, a maioria deles logo o localiza. E quem se lembra que antes de ela tomar o nome dos gloriosos portugueses que, em 1922 (Março-Junho) praticaram a proeza do “raid” Lisboa-Rio de Janeiro, se denominava então Largo da Alegria?
A família Casal que desde a 2ª. metade do Século XVIII habitando a casa da velha Rua de Palhais (actual Rua Aguiar) com os nºs. 154 a 162, a tornejar, a Nascente, para o pequeno largo com os nºs. 1 a 3, veio a designá-lo, popularmente, pelo seu apelido. Era o chefe da família, ainda nos princípios da 3ª. Década do Século XIX, o octogenário sargento-mor de ordenanças (oficial de ordenanças) Francisco Alvarez Casal.
Seu filho Francisco Alves Casal (1805-1881) foi também pessoa de muito prestígio no Barreiro, aqui desempenhando, como o pai, vários cargos administrativos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Barreiro - Moinhos de Alburrica I

Acrílico sobre tela 30 cm x 24 cm

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Escrevia Armando da Silva Pais, em “O Barreiro Antigo e Moderno” a páginas 145, o seguinte: Três outros moinhos de vento, já desmantelados, mas cujas paredes se conservam a desafiar os estragos do tempo, existem ainda em Alburrica. Perto uns dos outros – já em conjunto, já isolados – têm sido motivo de temas pictóricos.
Um deles, o mais alto, quase em forma de cone truncado, é chamado Moinho Gigante, porque os “anões” são os outros dois, de paredes cilíndricas. O “Gigante”, que foi reproduzido com as suas velas, pelo famoso pintor paisagista Silva Porto (1850-1893), ostenta ainda, por cima da porta da frente, a seguinte inscrição, gravada em pedra: FOI MANDADO EDIFICAR POR JOSÉ PEDRO DA COSTA NO ANO DE 1852.
Os outros dois mais pequenos moinhos de vento de Alburrica são também da mesma data do Gigante. Num deles, também por cima da porta principal, existe ainda bem conservado, um painel de azulejo, com a imagem de Nª: Sª. do Rosário, por baixo da qual se lê a seguinte inscrição: JOSÉ FRANCISCO DA COSTA ANNO DE 1852.
O outro é do mesmo tempo. Ambos pertencem agora, com os terrenos anexos, a mestre Francisco Ferreira, antigo construtor naval, que ali teve um estaleiro.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Barreiro - Alfredo da Silva

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Acrílico sobre tela 40 cm x 50 cm

Alfredo da Silva (1871-1942)
Alfredo da Silva nasceu em Lisboa, a 30 de Junho de 1871.
Em 1892 assumia a gerência da administração da Companhia Aliança Fabril situada em Alcântara.
Em 1898, um sinistro, mais concretamente um incêndio, devora algumas instalações da C.A.F. que fabricava sabões e velas, adubos orgânicos e bagaços alimentares. Alfredo da Silva vê, então, a maior vantagem na fusão da C.A.F. com a empresa congénere - sabão e óleos - denominada Companhia União Fabril que fora fundada em 1865 pelo Visconde de Jorumenha. A fusão teve lugar em 20/4/1898. Na eleição dos novos corpos gerentes, foi Alfredo da Silva escolhido para o Conselho de Administração, contando, então, 27 anos de idade.
Em Setembro de 1907 a C.U.F. começou a instalar no Barreiro as suas primeiras fábricas.
Até 1942, ano em que faleceu, esse homem tem uma actividade excepcional, e no Barreiro consumiu, trabalhando, uma parte da sua vida.
Ele era, porém, um homem bem simples, de rara modéstia, que poucas vezes perdia tempo em congressos de altas personagens das forças económicas, mais raras vezes assistia a banquetes e – quanto a homenagens – evitou sempre as que, por várias ocasiões, lhe quiseram prestar.
A 1 de Dezembro de 1928, quando uma caravana de jornalistas de Lisboa visitou o Barreiro e as fábricas da C.U.F., Alfredo da Silva afirmou que: “apesar da má fama de que até há pouco o operariado do Barreiro gosava, se encontrava mais seguro nesta vila do que passeando pelas ruas de Lisboa.”(Respigado do livro O Barreiro Antigo e Moderno” de Silva Pais.)



terça-feira, 1 de setembro de 2009

Barreiro - Moinho "Gigante" e Moinho de Maré do Cabo

Acrílico sobre tela 50 cm x 40 cm

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Moinhos de Alburrica

Em Alburrica, no 2º. quartel do Séc. XIX, numa reduzida área de 50 ha, havia 4 moinhos de maré com um total de 28 moendas (pares de mós) a trabalhar simultâneamente por um período de 5 a 6 horas por dia – o moinho “pequeno” com 3 moendas, o moinho “grande” com 7, o moinho do “cabo” com 8 e, finalmente, o moinho do “Braamcamp” com 10 moendas. A estes juntavam-se 3 moinhos de vento – o moinho “Gigante” com 2 moendas e os 2 moinhos mais pequenos com uma máquina cada (in “Um Olhar sobre o Barreiro”)

Moinho Gigante

Dos três moinhos existentes em Alburrica, um deles, o mais alto quase em forma de cone truncado, se não fora a pequena saliência do telhado, é chamado Moinho Gigante, porque os “anões” são os outros dois, de paredes cilindricas. O “Gigante”, que foi reproduzido com as suas velas, pelo famoso pintor paisagista Silva Porto (1850-1893), ostenta ainda por cima da porta da frente, a seguinte inscrição, gravada em pedra: FOI MANDADO EDIFICAR POR JOSÈ PEDRO DA COSTA NO ANO DE 1852. Os 2 moinhos mais pequenos são da mesma data do Gigante. Num deles, também por cima da porta principal, existe um painel de azulejo, com a imagem de Nª. Sª. do Rosário, por baixo da qual se lê a seguinte inscrição: JOSÉ FRANCISCO DA COSTA ANNO DE 1852. (in Barreiro Antigo e Moderno)

Moinho do Cabo

Data dos meados do Século XVIII. Também este moinho pertenceu a um titular, o 11º. Marquês das Minas, D. Alexandre da Silveira e Lorena (1847-1903), oficial da Casa Real, par do Reino e engenheiro civil. Passou depois à posse da família Costa, do Barreiro. Uma parte deste moinho moía trigo e outros cereais, por conta de José Pedro Maria da Costa, industrial de padaria nesta vila; a outra parte trabalhava no descasque de arroz, por conta de Joaquim do Rosário Costa. Esteve em actividade até cerca de 1913. Está actualmente em ruinas. (in Barreiro Antigo e Moderno)