sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Barreiro - Coina - Torre do Inferno

Acrílico sobre tela 50 cm x 40 cm

Foto

TORRE DO INFERNO
A quinta onde se encontra a Torre de Coina foi propriedade rural, no século XVIII, de D. Joaquim de Pina Manique, irmão do famoso intendente de D. Maria I, Diogo Inácio Pina Manique. A propriedade foi depois adquirida, no século XIX, por Manuel Martins Gomes Júnior, comerciante natural de Santo António da Charneca, que em 1910 mandou construir a chamada "Torre de Coina", diz-se, para que “conseguisse avistar a propriedade que possuía em Alcácer do Sal”.
(Mas parece pouco credível este argumento e diz-se que a construção do mirante seria apenas para permitir ao proprietário, em qualquer altura do dia, vigiar, com um óculo, os movimentos das suas fragatas no rio Tejo. Não parecia possível que do alto do mirante, se avistassem terrenos em Alcácer do Sal a dezenas de quilómetros de distância.)
Ainda hoje a marca de D. Joaquim está patente na quinta pois encontra-se uma cruz de Cristo inscrita numa lápide nos muros da quinta. Em finais do século XIX parte da propriedade foi comprada pelo “rei do lixo” (Manuel M. G. Júnior) que construiu um império a partir do nada! Manuel Martins Gomes Júnior nasceu em 1860 no seio de uma família humilde em S. António da Charneca e prometeu a si mesmo mudar de vida e foi o que fez! Trabalhou como empregado de uma mercearia em Lisboa, quando fez algum dinheiro regressou ao Barreiro e comprou o moinho de água em frente à Quinta de S. Vicente.
Segundo se conta a forma como Manuel M. G. J. ganhou a sua primeira maquia foi ao assinar um contrato com uma seguradora, e posteriormente atear fogo ao moinho, recebendo o dinheiro relativo ao estrago. Assim comprou uma fatia daquilo que será a sua grande quinta. Durante os anos seguintes Manuel M. G. J. trabalhou na agricultura, emprestando dinheiro aos proprietários vizinhos para cultivarem a ceara. Porém houve anos maus (e Manuel não perdoou as dívidas!) e tomou uma decisão radical, anexou as parcelas dos devedores à sua, formando assim uma quinta com mais de 300 hectares.
Devido ao seu profundo anti-deísmo baptizou-a de Quinta do Inferno. Estabeleceu um contrato com um grande negociante e exportador de carnes, Manuel M. G. J. alugou-lhe o espaço para porcos. Pouco tempo depois o seu sócio morreu e Manuel assumiu o controlo dos negócios passando a ser negociante de carnes. Devido à sua intuição nata para os negócios e ao seu carácter empreendedor atingiu o auge assegurando o controlo da recolha dos lixos em Lisboa (à altura os lixos eram apenas matéria orgânica) transportando-os para Coina nos seus cinco barcos (a que deu os nomes de Mafarrico, Lúcifer, Belzebu, Demónio e Satanás). O lixo servia de alimento aos porcos, ele não gastava um tostão! Em 1910 após a revolução republicana mandou construir o palácio de Coina investindo aí muito dinheiro, conta-se que o palácio foi construído com os mais ricos materiais da época. Nunca se chegou a saber qual a finalidade do edifício, uns afirmam que se destinava a “ir para lá morar com toda a sua família”, “que era para do alto avistar as suas vastas propriedades no Seixal”, ou “que era para fazer uma demonstração de grandeza e poder”. Outros disseram que seria nova sede da maçonaria visto que a sede ardera havia pouco tempo. Assim a Quinta do Inferno passou para o seu genro António Ramada Curto que posteriormente a vendeu a José Mota. A Quinta do Inferno mudou então de nome e passou a chamar-se Quinta de S. Vicente.




2 comentários:

Restauros disse...

Gostei de ler esta história da celebre torre. Parabéns pela investigação.
Manuel Luzia

Anónimo disse...

Obrigado por partilhar parte do seu conhecimento sobre a misteriosa torre de coina.
Cumprimentos