segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ainda Eça, o Barreiro e o "primo Basílio"

Acrílico sobre tela 50 cm x 40 cm

Foto
Silva Porto, quadro, óleo sobre madeira (reprodução)

Em 22 de Julho de 1866, Eça de Queirós conclui a formatura em Direito, na Universidade de Coimbra. Logo em fins de 1866, princípios de 67, vai viver para Évora. Aí funda e dirige o jornal “Distrito de Évora”, cujo 1º. número sai em 6 de Janeiro de 1867. Em 28 de Julho do mesmo ano abandona a direcção do jornal que fundara e regressa a Lisboa.

Em Novembro de 1876, 10 anos depois, conclui a redacção de O Primo Basílio. Só em 28 de Fevereiro de 1878 este livro surge nas livrarias.

E é, precisamente deste livro de Eça que respigamos a seguir 2 curtas passagens. E porquê? Porque em ambas Eça de Queirós se refere ao Barreiro. Na sua curta passagem pelo Alentejo (fins de 1866 até Julho de 1867) deverá ter viajado muitas vezes entre Lisboa e Évora via Barreiro. Apanhava o vapor em Lisboa e aqui o combóio para Évora. Daí o personagem principal deste romance (Jorge) ser eng. de minas e visitar por essa razão o Alentejo. São, naturalmente, reminiscências da sua passagem por Évora.

De “O Primo Basílio”

1ª. Transcrição:

Jorge enrolou um cigarro, e muito repousado,muito fresco na sua camisa de chita, sem colete, o jaquetão de flanela azul aberto, os olhos no teto, pôs-se a pensar na sua jornada ao Alentejo. Era engenheiro de minas, no dia seguinte devia partir para Beja, para Évora, mais para o sul até S. Domingos; e aquela jornada em Julho, contrariava-o como uma interrupção, afligia-o como uma injustiça. Que maçada por um verão daqueles! (…)

Sebastião começou a tocar a “Malaguenha”. Aquela melodia cálida, muito arrastada encantava-a. Parecia-lhe estar em Málaga, ou em Granada, não sabia; (…)

-Muito bem, Sebastião! Gracias!

Ele sorriu, ergueu-se, fechou cuidadosamente o piano, e indo buscar o seu chapéu.

-Então amanhã às sete? Cá estou, e vou-te acompanhar até ao Barreiro.

Bom Sebastião!

Foram debruçar-se na varanda para o ver sair. A noite fazia um silêncio alto, de uma melancolia plácida; (…)

-Que linda noite!

2ª. Transcrição:

Aquele quarto estava tão penetrado da personalidade de Jorge, que lhe parecia que ele ia voltar, entrar daí a bocado… Se ele viesse de repente!... Havia três dias que não recebia carta – e quando ela estivesse ali a escrever ao seu amante, num momento o outro podia aparecer e apanhá-la!... Mas eram tolices pensou. O vapor do Barreiro só chegava às cinco horas; e depois ele dizia na última carta que ainda se demorava um mês, talvez mais…

Sentou-se, escolheu uma folha de papel, começou a escrever, na sua letra um pouco gorda:

“Meu adorado Basílio”

sábado, 3 de outubro de 2009

Barreiro - Capela de Santo António da Misericórdia

Acrílico sobre tela 30 cm x 40 cm

Fotografia

Fotografia a preto e branco

Em “O Barreiro Antigo e Moderno”) pode ler-se:

A Capela da Misericórdia, situada na Praça de Santa Cruz, defronte da Igreja Matriz, é de fundação geralmente fixada nos fins do Século XV, ou, com mais precisão, no reinado de D. João II (1481-1495).

O pequeno templo sofreu diversos arranjos ou alterações. Destas, uma das mais importantes terá sido a que lhe introduziram no Século XVII, pelo desvelado auxílio de D. Isabel Pires de Azambuja, sobrinha da fundadora do Convento da Madre de Deus da Verderena, a qual lhe mandou beneficiar a frontaria, fazendo-lhe um portal, com algum valor decorativo.

É esse portal sobrepujado por uma pedra, na qual está esculpida uma enorme concha em relevo, com uma cabeça de anjo, entre duas asas, reproduzida também a cada um dos lados. Por baixo, encontra-se gravada a seguinte inscrição:

IZABEL PIZ DAZÃBVIA FEZ ESTE PORTAL

Nos derradeiros anos do Século XIX, esta capela estava muito arruinada. Numa circular, com data de 28-III-1900, do Provedor da Misericórdia, Manuel Marinho, lê-se o seguinte: É conhecido de todos o estado miserável de ruína e abandono em que tudo se encontra, parecendo-se mais com um velho pardieiro”.

Num outro documento a que tivemos acesso podemos ler:

É um importante testemunho da assistência aos peregrinos e enfermos, bem como do culto no Barreiro Quinhentista. A Igreja é de planta longitudinal, com dois corpos distintos: capela e sacristia. Terá tido origem a partir de uma Albergaria ali existente em 1492, mas a fundação do actual templo só vem a ser sancionada por D. Sebastião em 1569.

Na capela-mor painéis de azulejos historiados, com elementos relativos à vida de S. João Baptista. Do lado esquerdo do altar a representação do Nascimento de João Baptista e uma cena relacionada com a sua infância. No lado direito, a representação da Visitação e, no painel lateral de menores dimensões, João Baptista, já em idade adulta durante a sua pregação no deserto.

Na cruz que ostenta, a inscrição «ECCE AGNUS DEI» (Este é o cordeiro de Deus).

O altar-mor apresenta um conjunto azulejar do século XX com a representação da Assumpção da Virgem. Foi classificada como Monumento de Interesse Municipal pela CMB em 2003.

Finalmente, acrescentamos mais alguns dados respigados algures na Internet: Em 1955 resolveu-se reconstruir este antigo lugar de culto, para tal o edifício foi reduzido as suas quatro paredes. Seguindo um rigoroso plano de reconstrução e restauro, rebocaram-se as suas paredes, foram-lhe colocados azulejos também eles restaurados. Mais uma vez a CUF não ficou de fora, sendo o tecto, portas e bancos desta renovada capela (madeira bem como a mão-de-obra, trabalho estimado em 200 contos) uma oferta da empresa á Santa Casa da Misericórdia. A reabertura deste local de culto sob a invocação de Santo António, levou á necessidade de adquirir uma imagem do Santo que se crê ser do séc. XVIII e que depois de devidamente restaurada foi oferecida por D. Manuel de Mello a esta capela