Em Novembro de 1876, 10 anos depois, conclui a redacção de O Primo Basílio. Só em 28 de Fevereiro de 1878 este livro surge nas livrarias.
E é, precisamente deste livro de Eça que respigamos a seguir 2 curtas passagens. E porquê? Porque em ambas Eça de Queirós se refere ao Barreiro. Na sua curta passagem pelo Alentejo (fins de 1866 até Julho de 1867) deverá ter viajado muitas vezes entre Lisboa e Évora via Barreiro. Apanhava o vapor em Lisboa e aqui o combóio para Évora. Daí o personagem principal deste romance (Jorge) ser eng. de minas e visitar por essa razão o Alentejo. São, naturalmente, reminiscências da sua passagem por Évora.
1ª. Transcrição:
Jorge enrolou um cigarro, e muito repousado,muito fresco na sua camisa de chita, sem colete, o jaquetão de flanela azul aberto, os olhos no teto, pôs-se a pensar na sua jornada ao Alentejo. Era engenheiro de minas, no dia seguinte devia partir para Beja, para Évora, mais para o sul até S. Domingos; e aquela jornada em Julho, contrariava-o como uma interrupção, afligia-o como uma injustiça. Que maçada por um verão daqueles! (…)
Sebastião começou a tocar a “Malaguenha”. Aquela melodia cálida, muito arrastada encantava-a. Parecia-lhe estar em Málaga, ou em Granada, não sabia; (…)
-Muito bem, Sebastião! Gracias!
Ele sorriu, ergueu-se, fechou cuidadosamente o piano, e indo buscar o seu chapéu.
-Então amanhã às sete? Cá estou, e vou-te acompanhar até ao Barreiro.
Bom Sebastião!
Foram debruçar-se na varanda para o ver sair. A noite fazia um silêncio alto, de uma melancolia plácida; (…)
-Que linda noite!
Aquele quarto estava tão penetrado da personalidade de Jorge, que lhe parecia que ele ia voltar, entrar daí a bocado… Se ele viesse de repente!... Havia três dias que não recebia carta – e quando ela estivesse ali a escrever ao seu amante, num momento o outro podia aparecer e apanhá-la!... Mas eram tolices pensou. O vapor do Barreiro só chegava às cinco horas; e depois ele dizia na última carta que ainda se demorava um mês, talvez mais…
Sentou-se, escolheu uma folha de papel, começou a escrever, na sua letra um pouco gorda:
“Meu adorado Basílio”
3 comentários:
Só é pena que o Eça não tenha sido mais descritivo no que respeita ao Barreiro. É pena.
Cumprimentos João Figueiredo
Pois é verdade, mas quem dá o que pode a mais não é obrigado. E o Eça viveu pouco tempo em Évora, caso contrário, teria de certo mais histórias para nos contar. Como sabe o Barreiro foi noutros tempos a melhor via para quem se dirigia para o sul do país e muita gente deverá ter passado por aqui. A maior parte só de passagem mas o Barreiro também não tinha outros atractivos. Poderia no século passado ter desenvolvido o turismo mas não se pensava nem se investia nisso. Por exemplo, o nosso peixe e marisco poderia ter contribuido para atrair pessoas mas ninguém teve essa ideia. Li algures que antes da CUF as praias do Barreiro eram muito cobiçadas e boas para o lazer. Ainda me lembro de ver vir muita gente de Lisboa para as festas do Barreiro. E pelo Carnaval ver muitas cegadas que se dirigiam de Lisboa e percorriam as ruas da vila. Tempos!!!
Vamos terminar que a conversa já vai longa.
Cumprimentos e obrigado pela visita.
Boa tarde.
Sr. Alvaro Morgado, como vocè sou um barreirense que muito gosta da sua terra, tenho uma pãgina no facebook Barreiro no Coracao, onde publico memorias da nossa terra, gostaria de publicar alguns dos seus quadros sobre o Barreiro.
Ve algum inconveniente nessa publicação, obviamente identificando o autor e a página donde foram retirados.
Grato pela atenção.
Raul Machado
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